Toxoplasmose e seus impactos na retina

Uma infecção parasitária com prevalência relativamente alta no Brasil, a Toxoplasmose pode afetar várias partes do corpo, incluindo os olhos, podendo causar danos irreparáveis à retina.

A toxoplasmose é uma infecção parasitária causada pelo Toxoplasma gondii, um parasita que pode afetar várias partes do corpo, incluindo os olhos. Os gatos desempenham um papel crucial na disseminação do Toxoplasma gondii, pois são os únicos hospedeiros definitivos onde o parasita completa seu ciclo de vida sexual. No entanto, não é apenas o contato com gatos que pode levar à infecção e muitos dos infectados nem sequer tem contato direto com gatos.

A maneira como a toxoplasmose pode ser contraída pode variar, sendo influenciada por fatores como clima, hábitos alimentares, padrões de higiene e a presença de gatos. As principais formas de contratir toxoplasmose são:

  • Contato direto com fezes de gatos: Ter contato com fezes de gatos, especialmente ao limpar caixas de areia, pode levar à infecção, principalmente se as mãos não forem lavadas adequadamente. Quando gatos excretam oocistos nas fezes, o parasita pode contaminar o solo, a água, ou qualquer superfície onde as fezes estejam presentes.

  • Ingestão de alimentos contaminados: Consumir carne mal cozida, especialmente de porco, carneiro ou caça, que contém cistos teciduais do parasita. Para evitar a contaminação, é importante garantir que a temperatura interna da carne atinja pelo menos 70°C.

  • Vegetais e frutas contaminados: Comer produtos que foram expostos a solo ou água contaminada e não foram devidamente lavados. Lavar bem os vegetais e frutas e deixá-los de molho em um recipiente com 1 colher de sopa de água sanitária para cada litro de água por 15 minutos, seguido de um enxágue em água corrente, pode elimiminar os oocitos do parasita.

  • Transmissão congênita: Mães infectadas durante a gravidez podem passar a toxoplasmose para o feto, o que pode resultar em graves complicações para o bebê. Gestantes devem evitar o consumo de carne crua ou mal cozida, queijos frescos de origem desconhecida ou feitos com leite não pasteurizado, frutas e vegetais lavados indevidamente, e evitar o manuseio de fezes de gatos (como ao limpar caixas de areia).

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É importante salientar que nem todo gato transmite toxoplasmose. Para que um gato transmita toxoplasmose, ele precisa estar infectado com Toxoplasma gondii, isso geralmente ocorre quando o gato ingere carne crua ou caça animais infectados, como roedores ou pássaros. Gatos jovens são mais propensos a excretar oocistos após a infecção inicial, já os gatos adultos, especialmente aqueles que vivem em ambientes domésticos controlados, alimentados com ração comercial ou carne bem cozida, e que não caçam, têm menos chance de se infectar e, consequentemente, menos probabilidade de transmitir toxoplasmose.

Coriorretinite por Toxoplasmose

Entre as diversas manifestações da toxoplasmose, a coriorretinite por toxoplasmose é a que mais preocupa em termos de impacto ocular. Quando o parasita atinge a retina e a coroide, ele pode causar uma inflamação que, se não for diagnosticada rapidamente por um oftalmologista e tratada adequadamente, pode resultar em danos irreversíveis à visão. A toxoplasmose ocular pode levar a uma visão borrada, e, em casos mais graves, pode causar perda de visão em determinadas áreas do campo visual. Além disso, a coriorretinite por toxoplasmose pode deixar cicatrizes permanentes na retina, especialmente se afetar a mácula, que é a área responsável pela visão central, comprometendo significativamente a qualidade da visão.

Cicatriz macular coriorretiniana
Cicatriz macular coriorretiniana observada em um homem de 68 anos, possivelmente devido à toxoplasmose congênita ou a uma infecção adquirida durante a infância. Paciente com visão monocular, apresenta acuidade visual conta dedos no olho afetado (direito).

Outro ponto crítico é que a toxoplasmose ocular pode reativar-se mesmo muitos anos após a infecção inicial. Cada reativação pode agravar ainda mais os danos à retina, em situações extremas, a inflamação severa pode desencadear um descolamento de retina, uma condição grave que exige intervenção cirúrgica imediata para evitar a perda total da visão.

O tratamento da coriorretinite por toxoplasmose geralmente inclui o uso de medicamentos antiparasitários para combater a infecção e corticosteroides para reduzir a inflamação ocular. O objetivo do tratamento é controlar a infecção e minimizar os danos à visão, preservando ao máximo a função ocular do paciente.

Outras manifestações da toxoplasmose

Além dos olhos, a toxoplasmose pode afetar várias partes do corpo, dependendo da condição imunológica do indivíduo.

Em alguns casos, a infecção inicial pode passar despercebida, visto que pessoas com um sistema imunológico saudável pode não apresentar sintomas, ou pode experimentar sintomas leves, como febre e fadiga.

Pessoas com imunidade comprometida, como aquelas com HIV/AIDS ou que estão em quimioterapia, correm um risco maior de desenvolver formas mais graves da doença, que podem afetar o cérebro (causando encefalite), os pulmões, o coração e outros órgãos.

A infecção durante a gravidez pode causar sérios problemas ao feto, incluindo hidrocefalia, calcificações intracranianas e problemas visuais.

Toxoplasmose durante a gestação pode levar a complicações graves para o bebê
A mulher pode enfrentar diversos riscos oculares durante a gestação, com a toxoplasmose estando entre os principais, visto que representa um perigo significativo tanto para a mãe quanto para o bebê.

Toxoplasmose durante a gestação

A toxoplasmose durante a gravidez é uma preocupação significativa devido ao risco de transmissão do Toxoplasma gondii da mãe para o feto, o que pode levar a complicações graves para o bebê. Quando uma mulher grávida contrai toxoplasmose pela primeira vez, especialmente durante o primeiro trimestre, há uma chance de que o parasita atravesse a placenta e infecte o feto, causando toxoplasmose congênita.

A infecção durante as primeiras semanas de gestação pode levar a abortos espontâneos ou causar defeitos congênitos, como hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro), calcificações intracranianas (deposição anormal de cálcio no cérebro), e coriorretinite (inflamação da retina que pode causar perda de visão). Ao nascer, muitos bebês infectados podem parecer saudáveis, mas desenvolver sintomas meses ou anos depois.

Testes sorológicos para detectar anticorpos contra *Toxoplasma gondii* são recomendados para mulheres grávidas. O teste IgG pode indicar uma infecção passada ou uma infecção que ocorreu há algum tempo, enquanto o teste IgM indica uma infecção recente. Se a mamãe contraiu toxoplamose antes da gravidez e desenvolveu imunidade (IgG positivo), a transmissão para o bebê durante uma eventual reativação da infecção durante a gravidez é significativamente menor.

Se a toxoplasmose estiver causando sintomas oculares, como visão embaçada, manchas na visão ou dor ocular, consultar um oftalmologista para realizar um exame detalhado do fundo do olho pode revelar sinais de toxoplasmose ocular. Obter o diagnóstico inicial de toxoplasmose em um consultório oftalmológico, especialmente na especialidade de retina, é relativamente comum.

Toxoplasmose só existe no Brasil?

A toxoplasmose é amplamente conhecida no Brasil, onde a prevalência é relativamente alta, o que pode fazer com que colegas oftalmologistas de outros países tenham maior dificuldade em reconhecer a doença, no entanto, a prevalência da toxoplasmose varia amplamente em diferentes partes do mundo.

No Japão, por exemplo, a prevalência de toxoplasmose é notavelmente baixa, com estimativas sugerindo que apenas cerca de 10% da população adulta foi exposta ao parasita. Fatores como a tradicional dieta japonesa, que inclui menos carne vermelha e mais peixe, e altos padrões de higiene e saneamento, contribuem para essa baixa prevalência. Além disso, a prática de controlar populações de gatos de rua também pode reduzir a disseminação do parasita no ambiente.

Nos Estados Unidos e em muitos países da Europa Ocidental, a prevalência da toxoplasmose é moderada (cerca de 20% a 30% de exposição), já na África e na América Latina as taxas de exposição podem superar 50% da população.

Para quem vive em áreas com altas taxas de prevalência e viaja com frequência, é importante estar ciente dos riscos da toxoplasmose. O diagnóstico da toxoplasmose ocular pode ser realizado em consulta oftalmológica, por exames como mapeamento de retina ou retinografia, em caso de dor ocular, olho vermelho e diminuição da visão, por isso, é importante consultar um oftalmologista para descartar doenças mais sérias, como toxoplasmose.

Colaboração e Revisão técnica

Dra. Liene Midori Nakanishi

Oftalmologista especialista em Retina e Vítreo (CRM-DF 20240 / RQE 12088)


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