Lentes esclerais para ceratocone e córnea irregular

Reabilitação visual com lentes esclerais e semi-esclerais para tratar ceratocone, olho seco severo, córneas irregulares e condições corneanas complexas.

Poucas coisas afetam tanto a autonomia e a qualidade de vida quanto a dificuldade de enxergar com nitidez, mesmo usando óculos ou lentes comuns. Pacientes que convivem com alterações na curvatura da córnea — como o ceratocone — ou passaram por cirurgias oculares, frequentemente enfrentam uma jornada longa, marcada por tentativas frustradas, desconfortos e insegurança com o futuro da própria visão.

Com o avanço das tecnologias oftalmológicas nas últimas décadas, uma alternativa eficaz vem transformando esse cenário: as lentes esclerais e semi-esclerais, soluções altamente eficazes e seguras para condições corneanas complexas, que antes exigiam adaptações dolorosas ou intervenções cirúrgicas mais invasivas.

Adaptação ocular com foco na saúde da córnea

As lentes esclerais são lentes rígidas permeáveis a gás (RGP), mas ao contrário das lentes corneanas tradicionais, elas não se apoiam diretamente sobre a córnea. Seu apoio ocorre na esclera — a parte branca do olho — criando uma espécie de "câmara líquida" entre a lente e a superfície da córnea. Esse espaço é preenchido com soro fisiológico estéril antes da colocação da lente, funcionando como um reservatório de umidade e uma superfície óptica perfeitamente regular.

Esse formato de lente permite uma série de benefícios clínicos importantes: protege a córnea do atrito mecânico direto, fundamental em casos como ceratocone avançado, olho seco severo ou após transplante; melhora a acuidade visual em situações nas quais óculos ou lentes convencionais não são eficazes; e proporciona conforto prolongado, já que a lente se apoia sobre a esclera, uma área com sensibilidade significativamente menor.

Além disso, o design das lentes pode ser altamente personalizado, permitindo que se adaptem à topografia ocular única de cada paciente, respeitando a complexidade das irregularidades corneanas.

Para quem são indicadas lentes esclerais?

As lentes esclerais são indicadas em casos onde a superfície da córnea encontra-se distorcida, irregular ou sensível. Entre as principais indicações estão:

• Ceratocone moderado a avançado, em que a deformação corneana impede uma visão nítida com óculos ou lentes rígidas convencionais;
• Degenerações corneanas como a degeneração marginal pelúcida;
• Condições pós-cirúrgicas, como após transplante de córnea, onde a curvatura da superfície pode ser altamente irregular;
• Síndromes de olho seco grave, como Síndrome de Sjögren, em que a lubrificação natural do olho é insuficiente, provocando ardência constante e até lesões na superfície ocular;
• Sequelas de trauma ocular ou infecções severas, que alteraram a curvatura ou a integridade da córnea.

Nesses casos, a lente escleral não apenas proporciona visão nítida, mas atua como uma prótese funcional que protege, hidrata e restaura o conforto ocular.

Quando a indicação é para lentes semi-esclerais?

Pacientes com astigmatismo alto, ceratocone em estágio leve ou córneas irregulares menos acentuadas podem se beneficiar de um tipo semelhante, mas um pouco menor, chamado lente semi-escleral.

Elas também são rígidas e permeáveis a gás, mas seu diâmetro é inferior ao das esclerais completas, oferecendo uma solução eficaz para muitos pacientes que:

• Sentem desconforto com lentes rígidas pequenas;
• Têm dificuldade de adaptação com lentes tradicionais;
• Buscam uma alternativa estável e com menos risco de deslocamento;
• Necessitam de uma lente com melhor custo-benefício, sem abrir mão da qualidade visual.

A lente semi-escleral oferece um equilíbrio interessante entre adaptação facilitada, boa acuidade visual e menor preço — sendo uma excelente opção intermediária para pacientes com necessidades específicas.

Etapas do processo de adaptação de lentes esclerais

Muitos jovens, especialmente aqueles que receberam diagnóstico de ceratocone na adolescência, chegam à consulta com histórias semelhantes: anos usando óculos sem sucesso, tentativas dolorosas com lentes rígidas pequenas, sensação de não serem compreendidos e medo constante de perder a visão. Outros pacientes, por outro lado, muitas vezes enfrentam limitações visuais após cirurgias oculares ou convivem com olho seco severo que torna o dia a dia desconfortável.

Com a lente escleral certa, esses cenários mudam de forma significativa. Muitos pacientes relatam uma transformação marcante em sua rotina, tanto no aspecto funcional quanto no bem-estar emocional. Atividades antes evitadas, como dirigir à noite, passar horas no computador ou realizar tarefas sob luz intensa, voltam a ser possíveis com segurança e estabilidade visual. É comum ouvirmos relatos de melhora do conforto ocular ao final do dia, redução da necessidade de colírios, visão mais nítida e, sobretudo, a sensação de segurança por usar uma lente que fica firme, sem escorregar.

A segurança no uso vem da adaptação cuidadosa feita por um oftalmologista especialista em córnea e lentes de contato especiais, que utiliza mapeamento topográfico para desenhar a lente de forma individualizada. Isso garante não apenas conforto, mas também a manutenção da saúde ocular a longo prazo, algo essencial em doenças progressivas como o ceratocone.

A escolha entre uma lente escleral completa e uma semi-escleral depende de diversos fatores: estágio da doença, sensibilidade ocular, preço da lente, anatomia da córnea e estilo de vida do paciente. Por isso, a adaptação é um processo que requer acompanhamento de um profissional experiente e etapas bem definidas:

• Consulta e mapeamento da córnea com topografia e tomografia corneana
• Testes com lentes de prova específicas, observando centragem, selamento e estabilidade
• Avaliação da acuidade visual com a lente em uso
• Confecção sob medida da lente definitiva
• Acompanhamento nos primeiros dias e ajustes finos, se necessário

Mesmo pacientes que já tinham desistido de usar lentes voltam a ter esperanças quando encontram esse tipo de abordagem, que une ciência, personalização e escuta ativa.

Cuidar da visão é cuidar da sua autonomia, da sua autoestima e da sua qualidade de vida. Se você ou alguém próximo enfrenta dificuldades com óculos ou lentes tradicionais por conta de alterações corneanas, vale considerar uma avaliação com oftalmologista especialista em córnea, que poderá orientar sobre lentes especiais, cirurgia refrativa ou outras condutas adequadas ao seu caso.